A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso ga...

A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo*: Contemos esta regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho...

FUVEST - Português - 2019 - Vestibular - Primeira Fase

A certa personagem desvanecida


Um soneto começo em vosso gabo*:

Contemos esta regra por primeira,

Já lá vão duas, e esta é a terceira,

Já este quartetinho está no cabo.


Na quinta torce agora a porca o rabo;

A sexta vá também desta maneira:

Na sétima entro já com grã** canseira,

E saio dos quartetos muito brabo.


Agora nos tercetos que direi?

Direi que vós, Senhor, a mim me honrais

Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei.


Nesta vida um soneto já ditei;

Se desta agora escapo, nunca mais:

Louvado seja Deus, que o acabei.

Gregório de Matos

*louvor **grande


Tipo zero


Você é um tipo que não tem tipo

Com todo tipo você se parece

E sendo um tipo que assimila tanto tipo

Passou a ser um tipo que ninguém esquece


Quando você penetra num salão

E se mistura com a multidão

Você se torna um tipo destacado

Desconfiado todo mundo fica

Que o seu tipo não se classifica

Você passa a ser um tipo desclassificado


Eu até hoje nunca vi nenhum

Tipo vulgar tão fora do comum

Que fosse um tipo tão observado

Você ficou agora convencido

Que o seu tipo já está batido

Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado

Noel Rosa 

O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem

A) o processo de composição do texto.

B) a própria inferioridade ante o retratado.

C) a singularidade de um caráter nulo.

D) o sublime que se oculta na vulgaridade.

E) a intolerância para com os gênios.

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