Eu não sou um homem fácil: um filme que precisa ser visto!...

Eu não sou um homem fácil: um filme que precisa ser visto!23/04/2018Por Paula RamosRecentemente, o já amplo cardápio da Netflix ganhou novas aquisições. F...

COPESE - UFJF - Português - 2018 - Vestibular - 1° - Módulo III - Econômica e Administração

Eu não sou um homem fácil: um filme que precisa ser visto!

23/04/2018

Por Paula Ramos


Recentemente, o já amplo cardápio da Netflix ganhou novas aquisições. Filmes e séries foram adicionados às milhares de opções do streaming – ou seja, nossas dúvidas só aumentaram. Em meio a diversas produções norte-americanas, um certo filme francês ganhou destaque. Eu não sou um homem fácil [Je ne suis pas un Homme Facile] pode não ter o melhor título do mundo, mas certamente merece a atenção do público. Embora pareça uma clássica comédia machista, a trama não demora para revelar seu verdadeiro objetivo. E é exatamente o oposto do que pensávamos. O longa não apenas vai contra todos os princípios machistas, como também usa a comédia para distorcê-los. 


O filme

Damien é o típico estereótipo de um homem machista. Além de ser um conquistador, trata mulheres como objetos e pensa existir exclusividades de gênero, como roupas e tipos de bebidas. Conforme caminhava pelas ruas, a vida resolve lhe dar uma lição e recorre a uma maneira nada gentil de fazer isso. Damien bate a cabeça em um poste, literalmente, e acorda em um mundo invertido [...]. Nele, homens e mulheres têm seus papéis trocados em todos os sentidos. A vida do protagonista não mudou, visto que ele ainda tem seus amigos e seu emprego de antes. Entretanto, todos estão adaptados ao mundo novo. Enquanto seu melhor amigo se tornou dono de casa, sua chefe passou a usar terno para trabalhar. O corpo masculino passou a ser tratado de maneira exageradamente sexual, bem como o corpo feminino passou a ser coberto por calças. 

De maneira cômica e irônica, mulheres passaram a classificar os homens como “sexo frágil”. Depilação se tornou algo destinado (e quase obrigatório) ao gênero masculino. O romantismo se tornou raro entre as garotas, que apresentam a fama de serem infiéis. Os cargos de importância e liderança são todos ocupados por mulheres, que correm pelas ruas sem camisa e sem a preocupação de serem assediadas. Além disso, para desespero de Damien, a moça por quem ele tinha se interessado antes da mudança, se transformou em uma versão feminina dele mesmo. Alexandra objetifica os homens, tratando-os como meros pedaços de carne para seu bel-prazer. Damien passa, então, a sentir as consequências de seus atos na pele. O longa desenvolve isso da melhor e mais divertida maneira possível. 


Eu não sou um homem fácil? 

O objetivo principal do longa é mostrar que não é fácil viver na sociedade em que vivemos. Uma vez que você tenha nascido como membro do gênero feminino, tais dificuldades se multiplicam. Quando Damien perde “os privilégios” de ter nascido homem, ele passa a entender como é ruim viver no lado “desprivilegiado”. Suas roupas confortáveis e largas passaram a ser substituídas por peças curtas e extremamente apertadas. Sua chefe exibe absorventes internos em cima da mesa, sem a menor preocupação de mencionar o assunto “menstruação”. Ela, por sua vez, oferece uma oportunidade de trabalho para Damien em troca de favores sexuais. Chocante, não? 

No momento em que mulheres começam a olhar para suas pernas e sua bunda, Damien acha graça. Não demora, porém, para ele não aguentar mais viver no “mundo feminino”. Eu não sou um homem fácil exagera – ou não – nos estereótipos para construir sua trama. As personagens femininas arrotam, não se preocupam com a aparência, só bebem cerveja, gostam de futebol e são experts em trair seus parceiros. Mesmo que nem todos os homens sejam assim na “realidade”, sabemos que o objetivo principal do longa é criticar a sociedade patriarcal em que vivemos.

Para fechar com chave de ouro, temos também os gays do mundo invertido. No novo cotidiano de Damien, os homossexuais são pessoas que se vestem da forma que a “normalidade” do protagonista exige. Mulheres de vestido e homens de blazer se escondem em festas exclusivas e reservadas aos olhos do público. Apesar das diferenças, algo permanece: independentemente do mundo, a sociedade irá marginalizar o diferente. 


O que achamos? 

Apesar de todas as risadas que damos ao longo do filme, Eu não sou um homem fácil não deve ser classificado como uma “comédia romântica invertida”. A diretora e roteirista Eleonore Pourriat optou por uma forma divertida e sutil de criticar o machismo intrínseco à sociedade. E em tempos de grandes denúncias de assédio em Hollywood, o filme não poderia ter vindo em melhor hora. Ao final da trama, o público tem a certeza de que uma sociedade matriarcal é tão ruim quanto a patriarcal, tendo apenas os papéis invertidos. Para conseguir o efeito desejado, o roteiro apela para os clichês tradicionais do gênero. A protagonista cafajeste muda de opinião ao conhecer o homem da sua vida, e vice-versa. 

Algumas cenas ganham destaque em meio a outras. O momento de dar à luz, por exemplo, é bizarro. Embora a responsabilidade de gerar um filho ainda caiba a elas, são eles que se preocupam com as frivolidades. Um outro exemplo acontece na cena em que Damien é assediado física e verbalmente em um bar. Em nosso mundo, basta assistirmos a poucos minutos de um telejornal para observarmos casos piores com mulheres em todo o mundo. Por que o contrário é chocante? Talvez porque não estejamos acostumados à igualdade entre os gêneros – infelizmente, nem mesmo as mulheres estão. E é por isso que Eu não sou um homem fácil se tornou extremamente necessário. O filme é, sem dúvidas, mais um acerto da Netflix. Só nos resta esperar que seja aceito pelo lado masculino do público. 

(Texto adaptado. Disponível em:<https://poltronanerd.com.br/tags/eu-nao-sou-um-homem-facil> . Acesso em: 31 jul. 2018.)


TEXTO 2:

O assédio sexual feminino


O empresário Márcio André Barbosa Barroso, 37 anos, o estagiário R., 27, o jornalista L., 44, e o assistente financeiro P., 35, não se conhecem, mas, caso se encontrassem, teriam experiências semelhantes para compartilhar. Eles tiveram de abandonar seus empregos por causa de uma violência sutil e silenciosa que afeta mais as mulheres, mas que resulta na mesma dor moral quando a vítima é um homem. Assediados sexualmente por suas chefes, foram perseguidos, humilhados e se tornaram alvo de chacota após recusarem as investidas delas. Barroso largou tudo e foi viajar pela Europa. R. desistiu do estágio. L. deixou o cargo e voltou para sua cidade natal. E P. abandonou o trabalho, mesmo sem ter outro emprego em vista. Histórias de homens que foram coagidos e humilhados por rejeitarem suas chefes e tiveram de deixar seus empregos por causa disso. 

“Ela passava a mão em mim, me convidava para sair e queria ir para minha casa. Um dia até mordeu as minhas costas”, conta Barroso, que, no ano passado, enfrentou, durante dois meses, as cantadas de sua chefe na empresa de telefonia celular na qual trabalhava, em Brasília. “As pessoas riam de mim o tempo todo”, lembra. Ao se sentir rejeitada, a mulher, por volta dos 50 anos, passou a persegui-lo. Chegou a criar situações para que ele fosse demitido, como lhe atribuir faltas, mesmo diante de um atestado médico. As consultas eram justamente para se tratar da síndrome do pânico que desenvolveu devido à opressão que sofria. 

Barroso tentou denunciá-la, mas foi em vão. “Achavam que eu estava mentindo, que era um absurdo uma mulher assediar um homem.” Sem saber a quem recorrer, ele procurou a Justiça. O assédio sexual é crime no Brasil desde 2001. Apesar de as mulheres terem hoje mais liberdade sexual e ocuparem mais cargos de chefia, os casos de assédio delas contra eles ainda são considerados raros. Estima-se que eles sejam vítimas em apenas um de cada 100 casos. Ainda assim, dificilmente essas histórias se transformam em ações ou chegam aos consultórios. 

(Texto adaptado. Disponível em:<https://istoe.com.br/103744_O+ ASSEDIO+ SEXUAL+ FEMININO/> . Acesso em: 31 jul. 2018.) 

A partir da leitura dos Textos 1 e 2, é possível afirmar que:

A) Embora as pessoas do sexo masculino sejam também assediadas na atualidade, o número de pessoas do sexo feminino que sofrem assédio é excessivamente maior do que o de homens.

B) Os casos de assédio sofridos por homens, segundo o Texto 1, não costumam trazer grandes consequências psicológicas ou sofrimentos, sofrimento este representado no Texto 2 pelo personagem Damien.

C) A desigualdade de gênero, para os homens, resulta em assédio em diversas situações da vida cotidiana, enquanto, para as mulheres, resulta em assédio frequente nos seus ambientes de trabalho.

D) O filme Eu não sou um homem fácil, do Texto 1, é uma representação do assédio vivido por homens, que sofrem opressão em casa, na família e em outros ambientes da vida social, conforme atesta o Texto 2.

E) Tanto em uma sociedade patriarcal, em que predomina o machismo constante, quanto em uma sociedade matriarcal, entendida no Texto 2 como um “patriarcalismo invertido”, há uma defesa pela igualdade de gêneros.

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