A) O auto de João Cabral foi concluído em 1955, tempo em que ainda se iluminavam as casas com lamparinas, e, nessa situação, a percepção que Severino tem dos lugares que conhece é prejudicada pelas limitações da época e por sua própria ignorância.
B) A comparação de Recife com a “derradeira ave-maria/ do rosário”, assim como as várias rezas que Severino testemunha ao longo da viagem, mostra a presença constante da religiosidade como um fator de atraso na vida dos nordestinos.
C) Ao final, fica claro para o leitor que a vida no Recife também seria semelhante à das regiões menos desenvolvidas da Caatinga, do Agreste e da Zona da Mata, porque a pobreza não é causada pelas condições naturais, mas por uma estrutura social excludente.
D) O empenho social de João Cabral de Melo Neto é o de sugerir aos retirantes que não saiam de sua terra, visto que, sem preparo, eles enfrentam dificuldades enormes no Recife, valendo mais a pena procurar desenvolver sua própria região.
E) Ao chegar ao Recife, Severino ouve uma longa conversa entre dois coveiros e, percebendo que sua viagem havia sido inútil, entende a conversa como uma sugestão e se suicida, atirando-se no rio Capibaribe.
Analise as proposições em relação ao conto Os mortos não têm desejos (Roteiro de uma vida inútil), à obra O conto da mulher brasileira / Edla van Steen (Organizadora), e ao Texto.
I. Nos períodos “Heloísa termina de pendurar o último quadro” (linha 1) e “Não vou ser nunca o príncipe encantado” (linha 18) as expressões destacadas constituem locuções verbais e podem ser substituídas por pendura e serei, sequencialmente, sem que ocorra alteração de sentido no texto.
II. Devido à intercalação dos flashbacks, que mostram a vida da personagem-narradora Heloisa, na narração dela, há uma visível fragmentação na história, o que leva o leitor à divagação.
III. Embora a obra seja editada no período moderno, ela traz várias características da escola romântica, a exemplo, o patriarcalismo – alguns reflexos da ideologia dominante para mostrar os hábitos esperados pela sociedade e dirigidos às mulheres. E estas, na maioria dos contos, ainda que mostrem uma sensualidade reprimida, também continuam sendo objetos da idealização masculina.
IV. No sintagma verbal “De repente, larga a exposição em meio e pega o carro” (linha 7) a expressão destacada, quanto à morfologia, é locução adverbial, pode ser substituída pelo advérbio de modo – repentinamente, o qual pode ser deslocado para o final da oração, sem que ocorra prejuízo de sentido, no texto.
V. A Antologia é composta por 19 contos de autoras que fazem parte do panorama da literatura brasileira. As protagonistas são mulheres e, na maioria das narrativas, prepondera um tom intimista, dando preferência à primeira pessoa.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.
B) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.
C) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.
D) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras.
E) Todas as afirmativas são verdadeiras.
A) “Não entendia o que dera na cabeça dos índios para se instalarem lá, o que me parecia de uma burrice incrível, se não um masoquismo e mesmo uma espécie de suicídio”
B) “São órfãos da civilização. Estão abandonados. Precisam de alianças no mundo dos brancos, um mundo que eles tentam entender com esforço e em geral em vão. [...] Há quem tire de letra. Não foi o meu caso. Não sou antropólogo e não tenho uma boa alma. Fiquei cheio”.
C) “Os índios costumavam beber aquelas águas, pescar e a se banhar nelas, até o dia em que começaram a cair doentes, um depois do outro, e foram morrendo sem explicação. [...] Com o tempo descobriram a causa do envenenamento do rio Vermelho. Um hospital, construído rio acima, [...] estava despejando o lixo hospitalar naquelas águas”.
D) “Tanto os brasileiros como os índios que tenho visto são crianças mimadas que berram se não obtêm o que desejam e nunca mantêm as suas promessas, uma vez que você lhe dá as costas. O clima é anárquico e nada agradável”.
E) “Na primeira noite, ele me falou de uma ilha no Pacífico, onde os índios são negros. Me falou do tempo que passou entre esses índios e de uma aldeia, que chamou de Nakoroka, onde cada um decide o que quer ser, pode escolher sua irmã, seu primo, sua família, e também sua casta, seu lugar em relação aos outros [...] o sonho de aventura do menino antropólogo”.
A) idealiza o passado da conquista do espaço amazônico.
B) desmistifica as aventuras e os aventureiros da Amazônia.
C) faz uma reconstituição objetiva do passado histórico da Amazônia.
D) retrata os aventureiros amazônicos como homens especiais, desinteressados da vida mundana.
E) constrói um mito fundador para o povo amazônico, apoiado na miscigenação de brancos e índios.
A) “Por outro lado, as mulatas folgavam em tê-lo perto de si, achavam-no vivo e atilado, provocavam-lhe ditos de graça, mexiam com ele, faziam-lhe perguntas maliciosas, só para 'ver o que o demônio do menino respondia'. E logo que Amâncio dava a réplica, piscando os olhos e mostrando a ponta da língua, caíam todas num ataque de riso, a olharem umas para as outras com intenção”.
B) “Muita vez chorou de ternura, mas sempre às escondidas; muita vez sentiu o coração saltar para o filho, mas sempre se conteve, receoso de cair no ridículo./ E não se lembrava, o imprudente, de que o amor de pai é bem ao contrário do amor de filho; não se lembrava de que aquele nasce e subsiste por si e que este precisa ser criado; que aquele é um princípio e que este é uma consequência; que um vem de dentro para fora e que o outro vem de fora para dentro”.
C) “O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. Não imaginava as catástrofes imprevistas da vida, que nos empurram, às vezes, para onde nunca sonhamos ter de parar. Não via que, adquirida uma pequena profissão honesta e digna do seu sexo, auxiliaria seus pais e seu marido, quando casada fosse”.
D) “A casa da família do famoso violeiro não ficava nas ruas fronteiras à gare da Central; mas, numa transversal, cuidada, limpa e calçada a paralelepípedos. Nos subúrbios, há disso: ao lado de uma rua, quase oculta em seu cerrado matagal, topa-se uma catita, de ar urbano inteiramente. Indaga-se por que tal via pública mereceu tantos cuidados da edilidade, e os historiógrafos locais explicam: é porque nela, há anos, morou o deputado tal ou o ministro sicrano ou o intendente fulano”.
E) “O provinciano, muito desvigorizado com a moléstia, sentia perfeitamente que os lúbricos impulsos, que dantes lhe inspirava a graciosa rapariga, iam-se agora destecendo e dissipando à luz de um novo sentimento de gratidão e respeito. A primitiva Amélia desaparecia aos poucos, para dar lugar àquela extremosa criança, àquela irmãzinha venerável, que lhe enchia o quarto com o frescor balsâmico de sua virgindade e rociava-lhe o coração com a trêfega mimalhice de sua ternura”.
Leia os versos abaixo, de Gonçalves Dias e Basílio da Gama:
O Gigante de Pedra (II, Estrofes 5 e 6)
Tornam prados a despir-se, Tornam flores a murchar, Tornam de novo a vestir-se, Tornam depois a secar; E como gota filtrada De uma abóboda escavada Sempre, incessante a cair, Tombam as horas e os dias, Como fantasmas sombrias, Nos abismos do porvir!
E no féretro de montes Inconcusso, imóvel, fito, Escurece os horizontes O gigante de granito. Com soberba indiferença Sente extinta a antiga crença Dos Tamoios, dos Pajés; Nem vê que duras desgraças, Que lutas de novas raças Se lhe atropelam aos pés!
Gonçalves Dias
A Tempestade (Estrofes 1-4)
Um raio Fulgura No espaço, Esparso De luz; E trêmulo E puro Se aviva, S'esquiva, Rutila. Seduz!
Vem a aurora Pressurosa, Côr-de-rosa, Que se cora De carmim; A seus raios As estrelas, Que eram belas, Têm desmaios, Já por fim.
O sol desponta Lá no horizonte, Doirando a fronte, E o prado e o monte E o céu e o mar; E um manto belo De vivas cores Adorna as flores Que entre verdores Se vê brilhar.
Um ponto aparece, Que o dia entristece, O céu, onde cresce, De negro a tingir; Oh! Vede a procela Infrene, mais bela, No ar s'encapela Já pronta a rugir!
Gonçalves Dias
O Uraguai (Canto IV, v. 30-52)
Assim quem olha do escarpado cume Não vê mais do que o céu, que o mais lhe encobre A tarda e fria névoa, escura e densa. Mas quando o sol, de lá do eterno e fixo Purpúreo encosto de dourado assento, Co'a criadora mão desfaz e corre O véu cinzento de ondeadas nuvens, Que alegre cena para nossos olhos!
Podem Daquela altura, por espaço imenso, Ver as longas campinas retalhadas De trêmulos ribeiros, claras fontes E lagos cristalinos, onde molha As leves asas o lascivo vento. Engraçados outeiros, fundos vales E arvoredos copados e confusos, Verde teatro onde se admira quanto Produziu a supérflua Natureza. A terra sofredora de cultura Mostra o rasgado seio; e as várias plantas, Dando as mãos entre si, tecem compridas Ruas, por onde a vista saudosa Se estende e se perde. O vagaroso gado Mal se move no campo, e se divisam Por entre as sombras da verdura, ao longe, As casas branquejando e os altos templos.
Basílio da Gama
Com base na análise dos versos acima e na leitura integral de O Uraguai e de Os últimos cantos, considere as seguintes afirmativas:
1. Embora as “Poesias Americanas” tenham alcançado grande destaque nas leituras posteriores da obra de Gonçalves Dias, em Últimos Cantos elas ocupam um espaço menor do que o conjunto das outras duas partes: “Poesias Diversas” e “Hinos”.
2. No poema “O gigante de pedra”, é a montanha, da sua altura, quem assiste aos acontecimentos da história. Os versos acima citados de O Uraguai, por sua vez, adotam a perspectiva do olhar humano para descrever a natureza que se descortina do alto de uma montanha.
3. O hino “A tempestade” recria em seus versos os efeitos do fenômeno atmosférico que deslumbra o poeta. Nas três estrofes citadas, podem-se perceber os recursos poéticos utilizados: métrica crescente, esquema de rimas diferente a cada estrofe, adjetivos e verbos que vão do claro ao escuro, do tranquilo ao agitado.
4. A reiteração sonora do verbo “tornar”, na mesma posição dos versos iniciais da estrofe 5 de “O Gigante de Pedra”, marca a variação das estações do ano, sendo que a mesma característica é atribuída à montanha na estrofe seguinte e ao longo de todo o poema.
5. A partir de acidentes geográficos de localização precisa, a cadeia de montanhas localizada na atual cidade do Rio de Janeiro e o rio Uruguai, localizado na fronteira sul do país, “O Gigante de Pedra” e O Uraguai narram um episódio específico e datado da história brasileira.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente a afirmativa 5 é verdadeira.
B) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras.
C) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
D) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
E) As afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.
A) instável, com relações afetivas curtas e inconstantes, que por fim se transforma ao encontrar o amor verdadeiro.
B) prático, crítico ao romantismo, que ironiza o modo como as pessoas são vulneráveis às paixões.
C) romântico, que não se relaciona com nenhuma mulher por fidelidade a uma promessa que havia feito na infância.
D) melancólico, que prefere imaginar um amor perfeito, semelhante aos dos livros, o que o paralisa diante das relações afetivas reais e presentes.
E) interesseiro, que submetia suas relações afetivas ao cálculo sobre as vantagens sociais que elas lhe trariam.
A) à noção da estética clássica, segundo a qual a beleza nasce das relações proporcionais de objetos compostos.
B) à estética barroca, segundo a qual a beleza é intuitivamente produzida pelos artistas de gênio.
C) à reflexão aristotélica sobre arte, segundo a qual as artes devem se afastar do mundo natural.
D) à noção dialética, segundo a qual a beleza resplandece por contraste ao lado de figuras medonhas.
E) à concepção de uma ontologia artística, segundo a qual os artistas inspirados pelos deuses adornam o universo.
A) que a obra de Mário de Andrade apresenta um estilo com características de uma narrativa épico-lírica solene.
B) uma aproximação com o herói romântico, considerando a tendência modernista em relação à identidade nacional.
C) a preocupação do autor em apresentar um estilo literário inovador que é capaz de antecipar elementos pós-modernistas.
D) crítica severa ao descaso em relação à população indígena diante da importância deste povo na constituição de uma real identidade nacional.
A) II e III.
B) I, apenas.
C) III, apenas.
D) I e II, apenas
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