Questões de Português para Vestibular

cód. #5412

CEV-URCA - Português - 2019 - Vestibular - Prova II - História \ Geografia \ Português \ espanhol

Venenos de Deus, remédios do diabo: as incuráveis vidas de Vila Cacimba

– Noutro dia, você zangou-se comigo porque eu não o chamava pelo seu nome inteiro. Mas eu conheço o seu segredo.

– Não tenho segredos. Quem tem segredos são as mulheres.

– O seu nome é Tsotsi. Bartolomeu Tsotsi.

– Quem lhe contou isso? De certeza que foi o cabrão do Administrador.

Acabrunhado, Bartolomeu aceitou. Primeiro, foram os outros que lhe mudaram o nome, no baptismo. Depois, quando pôde voltar a ser ele mesmo, já tinha aprendido a ter vergonha de seu nome original. Ele se colonizara a si mesmo. E Tsotsi dera origem a Sozinho [Bartolomeu Sozinho].

– Eu sonhava ser mecânico, para consertar o mundo. Mas aqui para nós que ninguém nos ouve: um mecânico pode chamar-se Tsotsi?

– Ini nkabe dziua.

– Ah, o Doutor já anda a aprender a língua deles?

– Deles? Afinal, já não é a sua língua?

– Não sei, eu já nem sei...

O médico olha para o parapeito e estremece de ver tão frágil, tão transitório aquele que é seu único amigo em Vila Cacimba. O aro da janela surge como uma moldura da derradeira fotografia desse teimoso mecânico reformado.

– Posso fazer-lhe uma pergunta íntima?

– Depende – responde o português.

– O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor?

– Sim.

– Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar.

O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteira da Vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda de sentidos.

– Me receite um remédio para eu desmaiar.

O português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.

– Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.

Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua O português confessa sentir inveja de não ter duas línguas. E poder usar uma delas para perder o passado. E outra para ludibriar o presente.

– A propósito de língua, sabe uma coisa, Doutor Sidonho? Eu já me estou a desmulatar.

E exibe a língua, olhos cerrados, boca escancarada. O médico franze o sobrolho, confrangido: a mucosa está coberta de fungos, formando uma placa esbranquiçada.

– Quais fungos? – reage Bartolomeu. – Eu estou é a ficar branco de língua, deve ser porque só falo português...

O riso degenera em tosse e o português se afasta, cauteloso, daquele foco contaminoso.

[...] 

O médico olha para o parapeito e estremece de ver tão frágil, tão transitório aquele que é seu único amigo em Vila Cacimba. O aro da janela surge como uma moldura da derradeira fotografia desse teimoso mecânico reformado.

– Posso fazer-lhe uma pergunta íntima?

– Depende – responde o português.

– O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor?

– Sim.

– Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar.

O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteira da Vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda de sentidos.

– Me receite um remédio para eu desmaiar.

O português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.

– Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.

Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso. [...]

(COUTO, Mia. Venenos de Deus, remédios do diabo: as incuráveis vidas de Vila Cacimba. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp. 110-113)

No fragmento: O português confessa sentir inveja de não ter duas línguas. O termo em destaque é sintaticamente classificado como:

A) Oração subordinada substantiva objetiva direta;

B) Oração subordinada substantiva objetiva indireta;

C) Oração subordinada substantiva completiva nominal;

D) Oração subordinada substantiva apositiva;

E) Oração subordinada substantiva subjetiva.

A B C D E

cód. #5413

CEV-URCA - Português - 2019 - Vestibular - Prova II - História \ Geografia \ Português \ espanhol

Venenos de Deus, remédios do diabo: as incuráveis vidas de Vila Cacimba

– Noutro dia, você zangou-se comigo porque eu não o chamava pelo seu nome inteiro. Mas eu conheço o seu segredo.

– Não tenho segredos. Quem tem segredos são as mulheres.

– O seu nome é Tsotsi. Bartolomeu Tsotsi.

– Quem lhe contou isso? De certeza que foi o cabrão do Administrador.

Acabrunhado, Bartolomeu aceitou. Primeiro, foram os outros que lhe mudaram o nome, no baptismo. Depois, quando pôde voltar a ser ele mesmo, já tinha aprendido a ter vergonha de seu nome original. Ele se colonizara a si mesmo. E Tsotsi dera origem a Sozinho [Bartolomeu Sozinho].

– Eu sonhava ser mecânico, para consertar o mundo. Mas aqui para nós que ninguém nos ouve: um mecânico pode chamar-se Tsotsi?

– Ini nkabe dziua.

– Ah, o Doutor já anda a aprender a língua deles?

– Deles? Afinal, já não é a sua língua?

– Não sei, eu já nem sei...

O médico olha para o parapeito e estremece de ver tão frágil, tão transitório aquele que é seu único amigo em Vila Cacimba. O aro da janela surge como uma moldura da derradeira fotografia desse teimoso mecânico reformado.

– Posso fazer-lhe uma pergunta íntima?

– Depende – responde o português.

– O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor?

– Sim.

– Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar.

O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteira da Vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda de sentidos.

– Me receite um remédio para eu desmaiar.

O português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.

– Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.

Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua O português confessa sentir inveja de não ter duas línguas. E poder usar uma delas para perder o passado. E outra para ludibriar o presente.

– A propósito de língua, sabe uma coisa, Doutor Sidonho? Eu já me estou a desmulatar.

E exibe a língua, olhos cerrados, boca escancarada. O médico franze o sobrolho, confrangido: a mucosa está coberta de fungos, formando uma placa esbranquiçada.

– Quais fungos? – reage Bartolomeu. – Eu estou é a ficar branco de língua, deve ser porque só falo português...

O riso degenera em tosse e o português se afasta, cauteloso, daquele foco contaminoso.

[...] 

O médico olha para o parapeito e estremece de ver tão frágil, tão transitório aquele que é seu único amigo em Vila Cacimba. O aro da janela surge como uma moldura da derradeira fotografia desse teimoso mecânico reformado.

– Posso fazer-lhe uma pergunta íntima?

– Depende – responde o português.

– O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor?

– Sim.

– Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar.

O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteira da Vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda de sentidos.

– Me receite um remédio para eu desmaiar.

O português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.

– Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.

Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso. [...]

(COUTO, Mia. Venenos de Deus, remédios do diabo: as incuráveis vidas de Vila Cacimba. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp. 110-113)

“Identidade nacional representa um conjunto de sentimentos que fazem com que um indivíduo se sinta parte de uma sociedade ou nação. A língua é um importante elemento na constituição da identidade de um povo. Ela permite reconhecer membros da comunidade, diferenciar estrangeiros e transmitir tradições”. Das proposições a seguir, marque a que não aparece o sentimento de não pertencimento:

A) Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.

B) Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso.

C) A propósito de língua, sabe uma coisa, Doutor Sidonho? Eu já me estou a desmulatar.

D) Depois, quando pôde voltar a ser ele mesmo, já tinha aprendido a ter vergonha de seu nome original.

E) O português confessa sentir inveja de não ter duas línguas. E poder usar uma delas para perder o passado. E outra para ludibriar o presente.

A B C D E

cód. #4134

UNIMONTES - Português - 2019 - Vestibular - PAES - Primeira Etapa

As escolhas linguístico-lexicais feitas pelo autor possibilitam a esse texto

A) apresentar um caráter reflexivo, pelos efeitos semânticos e expressivos dessa seleção vocabular.

B) explorar essencialmente o sentido literal, denotativo, das ideias nele contidas.

C) transmitir uma informação objetiva sobre a realidade, com dados concretos, fatos e circunstâncias.

D) trazer ao leitor uma experiência conceitual de metalinguagem.

A B C D E

cód. #5414

CEV-URCA - Português - 2019 - Vestibular - Prova II - História \ Geografia \ Português \ espanhol

Observe o poema a seguir e marque a opção correta:

“Portugal colonial”


Nada te devo

nem o sítio

onde nasci


nem a morte

que depois comi

nem a vida


repartida

p'los cães

nem a notícia


curta

a dizer-te

que morri


nada te devo

Portugal

Colonial

cicatriz

doutra pele

apertada

(David Mestre, poeta angolano. In: DÁSKALOS, M. A.; APA, L.; BARBEITOS, A. Poesia africana de língua portuguesa: antologia. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003, p. 104.)

A) O texto deixa transparecer a saudade da infância, período de alegria e despreocupação;

B) Há, no texto, uma fusão do sujeito no objeto quando apresenta uma nostalgia dos tempos áureos;

C) O texto se caracteriza por apresentar um distanciamento dos problemas sociais;

D) O texto se resume a fazer uma crítica ao preconceito racial sofrido pelos africanos;

E) Há um forte engajamento retratado por um discurso de resistência e de combate à opressão.

A B C D E

cód. #1575

UEMG - Português - 2019 - Vestibular - EAD - Prova 05

As pessoas com deficiência estão conquistando seu espaço. Venha conquistar o seu.

Para o Sistema Fiemg e todas as suas entidades, empregar trabalhadores com deficiência é mais do que um exigência legal. É uma forma de valorizar as oportunidades oferecidas pela diversidade da nossa sociedade. Se você é deficiente e procura espaço no mercado de trabalho, o SESI e o SENAI estão contratando. Cadastre seu currículo no site www.fiemg.com.br, ou envie para a caixa postal 2006, ou procure uma unidade do SESI ou do SENAI mais próxima de você.

Faça parte da nossa equipe

(Estado de Minas,domingo, 25 mar. 2007. Caderno Classificados. p.8 )


A respeito do contexto de produção e circulação desse texto são feitas as afirmativas abaixo.

I. Dirige-se a um público específico.

II. Poderia ser veiculado em outros suportes.

III. Tem intenção de persuadir o interlocutor.


São corretas as afirmativas:

A) I e II apenas.

B) I e III apenas.

C) II e III apenas.

D) I, II e III.

A B C D E

cód. #4135

UNIMONTES - Português - 2019 - Vestibular - PAES - Primeira Etapa

Em qual das alternativas a seguir há uma personificação da palavra “pensamento”?

A) “O homem teme o pensamento [...]” (Linha 1)

B) “O pensamento é [...] ágil [...]” (Linha 6)

C) “Ele vê o homem como frágil graveto [...]” (Linhas 4-5)

D) “O pensamento é [...] a luz do mundo [...]” (Linha 6)

A B C D E

cód. #5415

CEV-URCA - Português - 2019 - Vestibular - Prova II - História \ Geografia \ Português \ espanhol

Enumere a segunda coluna de acordo com a primeira no que se refere às figuras da linguagem, em seguida marque a opção correta:


(1)Polissíndeto

(2)Anacoluto

(3)Pleonasmo

(4)Anáfora

(5) Antítese

(6) Gradação

(7) Sinestesia


( ) “Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal”

(Fernando Pessoa)

( ) “Eu vi a cara da morte, e ela estava viva”. (Cazuza)

( ) “O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário.” (Olavo Bilac)

( ) “Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, na paciência e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!”

com calma sem sofrer

(Olavo Bilac)

( ) “Como era áspero o aroma daquela fruta exótica” (Giuliano Fratin)

( )“ Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer”

(Camões)

( )“O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto

(Carlos Drummond de Andrade)

A) 7;4;2;3;1;6;5;

B) 2;3;1;7;6;5;4;

C) 3;5;6;1;7;4;2;

D) 6;3;1;2;4;7;5;

E) 5;4;3;1;2;6;7.

A B C D E

cód. #1576

UEMG - Português - 2019 - Vestibular - EAD - Prova 05


Nessa campanha publicitária, há o conselho de preservar o livro, porque

A) a chuva é capaz de trazer danos a esse tipo de material.

B) as bibliotecas possuem poucos exemplares de cada livro.

C) o livro é um objeto que pode ser usado por várias pessoas.

D) os acervos correm o risco de desaparecer das bibliotecas.

A B C D E

cód. #4136

UNIMONTES - Português - 2019 - Vestibular - PAES - Primeira Etapa

A progressão desse texto argumentativo se constrói, principalmente, com

A) a repetição do tema.

B) a evolução da adjetivação usada.

C) a explicitação da condição do homem sobre a Terra.

D) a comparação entre o homem e o pensamento.

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cód. #5416

CEV-URCA - Português - 2019 - Vestibular - Prova II - História \ Geografia \ Português \ espanhol

Em ABC da Literatura, Ezra Poud afirma que “literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível.” No fragmento: E eu vi por tantas cantigas e luas e pontas de ruas meu verso voar, do poeta Cleilson Pereira Ribeiro, temos:

A) Uma relação de interdependência entre leitor e autor, já que a linguagem apresenta baixo nível de significado;

B) Uma ênfase a linguagem referencial e que pouca reflexão exige do receptor;

C) Uma indicação de linguagem poética que se preocupa apenas com os aspectos sonoros do texto;

D) Uma utilização máxima de significados em que as palavras saem do seu campo semântico e potencializam-se;

E) Uma demonstração unívoca de significados que demonstra ao leitor sua parcela de compreensão textual.

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