Questões de Português para Vestibular

cód. #2893

COPESE - UFT - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre - Língua Portuguesa, Inglês e Matemática

Leia o fragmento do início da parte II de O tronco, do goiano Bernardo Élis, para responder a QUESTÃO.

(...) O sertão é triste e feio em julho, as queimadas borrando o céu de fumaça, a vegetação já amarelecida, crestada pelo sol e pelo fogo, as árvores despidas de suas folhas pelo rigor da seca. Pelos ermos e descampados o vento galopa seu febrento bafo de morte, arrastando folhas secas, levantando a poeira fina, erguendo-a nos espaços em funis de redemunhos. (...)

Fonte: ÉLIS, Bernardo. O tronco. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p. 61.

De acordo com o fragmento de O tronco, é CORRETO afirmar que o autor apresenta

A) um ambiente estéril, com uso de onomatopeia.

B) um cenário árido, com uso de linguagem poética.

C) um espaço hostil, com uso de linguagem científica.

D) uma paisagem agressiva, com uso de metalinguagem.

A B C D E

cód. #3917

CÁSPER LÍBERO - Português - 2019 - Vestibular

DA LÓGICA DA POLÍTICA À LÓGICA DA MÍDIA: ENTRE DEMOCRACIA E ENTRETENIMENTO
Luís Mauro Sá Martino


    As relações entre política e entretenimento vêm sendo um objeto privilegiado de investigação tanto no campo das Ciências Sociais como no da Comunicação. Dentre os vários focos, seria possível destacar a preocupação com as formas de concepções de política presentes na arte, questões de política cultural e o engajamento de artistas, canções e movimentos musicais em atividades de natureza política – a canção de protesto, nesse sentido, seria o caso mais explícito. Se a perspectiva crítica foi, em algum momento, dominante, proposições recentes vêm procurando contrabalançar essa questão
    O argumento deste ensaio é que a política está tomando a forma do entretenimento porque ela não seria entendida de outra maneira. Boa parte das referências coletivas contemporâneas estão articuladas com os ambientes da mídia e os discursos em circulação nesses espaços, fazendo parte de uma “cultura digital”, “cultura de massa”, “cultura da mídia” ou mesmo “popular culture”, como preferem os anglo-saxões, em uma acepção de “popular” que fica em diagonal com a dos discursos teóricos latino-americanos. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), em seu trabalho pioneiro de análise da mídia, sugeria que as “mitologias modernas” – tramas de novelas, trechos de filmes, episódios de séries, canções populares e rock’n’roll – estão muito mais presentes na memória, tanto individual como coletiva, do que outras formas de narrativa.
    O “mundo vivido”, no dizer do filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), está permeado de elementos dos meios de comunicação; eles formam nossa memória e os discursos coletivos, permitem associações e identificações individuais e sociais, expressam sentimentos e aspirações. Estão vinculados às condições materiais de sua produção e às relações sociais, mas, ao mesmo tempo em que as expressam, também as transcendem – a dialética da produção cultural, em alguma medida, parece se direcionar para esse aparente paradoxo que, no entanto, se dissolve quando se lembra que essa, em alguma medida, é a própria dinâmica da sociedade.
    Isso não é superdimensionar o poder da mídia e sua articulação com a política da vida cotidiana. Se ela tem a série de prerrogativas, é porque está presente em algo mais amplo chamado “vida humana”, que certamente não depende apenas dos ambientes midiáticos, mas está em constante articulação com eles dentro de um processo de midiatização.
    O sentido das mensagens da mídia é negociado em seu uso pelos indivíduos, entendidos como sujeitos históricos e sociais, dotados de vínculos, sentimentos, afetos, razão. Sua presença inicialmente se deve muito mais à maneira como ela se articula e se relaciona com outras instâncias da vida social, articulando-se em termos de um “ambiente”.


    A realidade compartilhada
   O filósofo norte-americano William James (1842-1910) foi um dos primeiros a chamar a atenção para esse fenômeno: vivemos em múltiplas realidades, mas quase não nos damos conta disso e, na maior parte dos casos, essa pluralidade é deixada de lado e comprimida em uma entidade singular, a realidade. E, nesse sentido, boa parte de nossa experiência cotidiana está relacionada de alguma maneira com as interações mediadas.
    Em primeiro lugar, pela onipresença das redes de comunicação. As tecnologias de comunicação, transformadas em miniaturas e acopladas ao corpo humano, permitem uma interação mais rápida e ampla com outros seres humanos, mas também com outros canais de informações, como jamais foi experimentado na história. Se é possível dizer que a realidade é relacional, é possível argumentar também que essas relações são hoje mais mediadas do que em qualquer outra época. O acoplamento de dispositivos tecnoeletrônicos ao corpo humano – alguns autores chamariam de “pós-humano” – torna possível a criação e a experiência do “mundo real” em ambientes antes inimagináveis, múltiplos e simultâneos. Em qualquer lugar posso estar ligado simultaneamente a várias realidades, sobretudo quando se leva em conta a noção de “múltiplas realidades” mencionada por James.
    Mesmo em um plano mais amplo, é praticamente impossível escapar da presença da mídia em qualquer espaço, seja como o som ambiente de um supermercado, seja nas telas eletrônicas presentes nos lugares mais inesperados ou no toque do smartphone. A torrente de informações, inesgotável, não é apreendida em sua totalidade pelos cinco sentidos, e aí também encontra lugar um intenso processo de negociação na dinâmica entre emissor, mensagem e receptor – se essas categorias ainda têm alguma validade para definir os parâmetros da comunicação contemporânea. Essa torrente não é nova e, quando se leva em consideração o desenvolvimento de uma cultura vinculada à mídia desde o final do século XIX, seria possível dizer que, de alguma maneira, a história cultural dos séculos XX e XXI está ligada aos discursos produzidos nos e pelos meios de comunicação e à sua apropriação e ressignificação pelos indivíduos.
    Ao menos nas grandes cidades, seria difícil encontrar alguém nascido após 1950 que não tenha, em suas memórias pessoais, lembranças da televisão, do cinema e do rádio. O repertório das pessoas está povoado de personagens de filmes e novelas, cenas de cinema, música popular, MPB, rock’n’roll, citações de séries de televisão. (Texto adaptado).  
De acordo com o texto, é correto afirmar que as relações entre entretenimento e política implicam a ideia de que:

A) à medida que os ambientes das mídias digitais e as transformações da indústria cultural se afirmam como espaços de participação avessos à política, a própria noção de democracia vem se transformando para dar conta dos cenários contemporâneos.

B) a produção cultural vinculada de alguma forma aos meios de comunicação é parcialmente responsável por auxiliar na construção de gostos, ideias, significados e estilos de vida.

C) quando se pensa o poder como a seleção de alguns dos discursos em circulação pela sociedade, responsáveis por gerar tanto práticas quanto representações, o domínio da política se restringe consideravelmente.

D) devido à descrença quanto à ação dos políticos, busca-se viver um dia de cada vez e refugia-se em um repertório povoado de personagens de filmes e novelas, música popular e citações de séries de televisão.

E) as diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na cultura de massa um poderoso instrumento para a veiculação de ideias e a consequente formação e manipulação da opinião pública.

A B C D E

cód. #1358

UEL - Português - 2019 - Vestibular - Língua Portuguesa, Literatura e Língua Espanhola

Leia a crônica a seguir, de Luis Fernando Veríssimo, e responda à questão:

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção.
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112.
Sobre os dois primeiros parágrafos, considere as afirmativas a seguir.
I. A ideia de uma “retumbante timidez” conduz à notoriedade, por influência do impacto do adjetivo. II. A ideia da timidez como “estratagema para ser notado” corresponde à noção de que aquela timidez é falsa. III. Pode-se concluir que o texto prevê como uma das expectativas sobre o tímido que ele seja desatento. IV. O texto vincula a extroversão com o desejo de evidenciar a timidez encoberta.
Assinale a alternativa correta

A) Somente as afirmativas I e II são corretas.

B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

A B C D E

cód. #2894

COPESE - UFT - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre - Língua Portuguesa, Inglês e Matemática

eia o fragmento do primeiro capítulo de O vendedor de passados, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, para responder a QUESTÃO.

Nasci nesta casa e criei-me nela. Nunca saí. Ao entardecer encosto o corpo contra o cristal das janelas e contemplo o céu. Gosto de ver as labaredas altas, as nuvens a galope, e sobre elas os anjos, legiões deles, sacudindo as fagulhas dos cabelos, agitando as largas asas em chamas. É um espetáculo sempre idêntico. Todas as tardes, porém, venho até aqui e divirto-me e comovo-me como se o visse pela primeira vez. A semana passada Félix Ventura chegou mais cedo e surpreendeu-me a rir enquanto lá fora, no azul revolto, uma nuvem enorme corria em círculos, como um cão, tentando apagar o fogo que lhe abrasava a cauda. — Ai, não posso crer! Tu ris?! Irritou-me o assombro da criatura. Senti medo mas não movi um músculo. [Félix Ventura] tirou os óculos escuros, guardou-os no bolso interior do casaco, despiu o casaco, lentamente, melancolicamente, e pendurou-o com cuidado nas costas de uma cadeira. Escolheu um disco de vinil e colocou-o no prato do velho gira-discos. “Acalanto para um Rio”, de Dora, a Cigarra, cantora brasileira que, suponho, conheceu alguma notoriedade nos anos setenta. Suponho isto a julgar pela capa do disco. É o desenho de uma mulher em biquíni, negra, bonita, com umas largas asas de borboleta presas às costas. “Dora, a Cigarra – Acalanto para um Rio – O Grande Sucesso do Momento”. A voz dela arde no ar. Nas últimas semanas tem sido esta a banda sonora do crepúsculo. Sei a letra de cor. (...)

Fonte: AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004, p. 03. [adaptado]

Sobre o fragmento de O vendedor de passados é CORRETO afirmar que o narrador

A) sobressalta-se com o despir de Félix Ventura.

B) observa com amor as ações de Félix Ventura.

C) percebe uma alteração da rotina na chegada de Félix Ventura.

D) conjectura que a escolha do disco de vinil foi pela tristeza de Félix Ventura.

A B C D E

cód. #1359

UEL - Português - 2019 - Vestibular - Língua Portuguesa, Literatura e Língua Espanhola

Leia a crônica a seguir, de Luis Fernando Veríssimo, e responda à questão:

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção.
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112.
Sobre a crônica “Da timidez” e suas relações com outros textos incluídos nas Comédias para se ler na escola ou com crônicas de outros autores, considere as afirmativas a seguir .
I. O traço cômico, exemplificado pela passagem em que o tímido tropeça, cai e leva junto a anfitriã, prevalece sobre o lirismo, mais presente nas crônicas de outros autores. II. O componente narrativo aparece em outras crônicas de Comédias para se ler na escola de forma mais explícita do que em “Da timidez”. III. A crônica se constrói em torno de comentários de suposições e de experiências das vidas de pessoas tímidas; essa opção pelo comentário aparece também em Comédias para se ler na escola e é comum nas crônicas de outros autores. IV. A fala proferida por personagem no texto – “ ‘Não me olhem! Não me olhem!”’ – comprova a força do diálogo como estrutura dessa crônica e de outras em Comédias para se ler na escola.
Assinale a alternativa correta.

A) Somente as afirmativas I e II são corretas.

B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas

E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

A B C D E

cód. #2895

COPESE - UFT - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre - Língua Portuguesa, Inglês e Matemática

Leia o poema “UM DEUS MAIS JUSTO”, de Marcelo Yuka, para responder a QUESTÃO.

não quero perdoar por receio quero um deus mais justo não um deus justiceiro

não somos do tamanho do corpo ou do muro somos do tamanho do que sentimos – de preferência juntos

um dia eu vi a nobreza em pés descalços e a revelação num site de denúncia

um dia eu vi a beleza pagã da bateria versus sua rainha que pagava para ser vista

a sinapse ganha o mundo em novos neurônios de preferência juntos

Fonte: YUKA, Marcelo. Astronautas Daqui. Brasília, DF: IMP, 2014, p. 171.

O eu-lírico apresenta percepções em relação àquilo que observa. É CORRETO afirmar que tais percepções podem ser vistas como uma

A) possibilidade de aproximação com o outro, como em “do que sentimos/ de preferência juntos”.

B) desconexão biológica mundial, como em “a sinapse ganha o mundo/ em novos neurônios”.

C) promoção da beleza e da prosperidade, como em “não somos do tamanho/ do corpo ou do muro”.

D) concordância com as aparências dos eventos, como em “versus sua rainha/ que pagava para ser vista”.

A B C D E

cód. #1360

UEL - Português - 2019 - Vestibular - Língua Portuguesa, Literatura e Língua Espanhola

Leia a crônica a seguir, de Luis Fernando Veríssimo, e responda à questão:

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção.
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112.
Acerca dos recursos morfossintáticos presentes no trecho “O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó”, considere as afirmativas a seguir.
I. Em “O tímido, em suma, é uma pessoa convencida”, a oração funciona como principal. II. A oração “de que é o centro do Universo” funciona como complemento nominal do adjetivo “convencida”. III. Na oração “quando as estrelas virarem pó”, o termo “pó” caracteriza o sujeito “estrelas”. IV. No fragmento “e que seu vexame ainda será lembrado”, a oração tem sentido consecutivo.
Assinale a alternativa correta.

A) Somente as afirmativas I e II são corretas.

B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

A B C D E

cód. #2896

COPESE - UFT - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre - Língua Portuguesa, Inglês e Matemática

Leia o fragmento do Poema sujo, de Ferreira Gullar, para responder a QUESTÃO.


(...) Sobre os jardins da cidade

urino pus. Me extravio

Na Rua da Estrela, escorrego

No Beco do Precipício.

Me lavo no Ribeirão.

Mijo na Fonte do Bispo.

Na Rua do Sol me cego,

na Rua da Paz me revolto

na do Comércio me nego

mas na das Hortas floresço;

na dos Prazeres soluço

na da Palma me conheço

na do Alecrim me perfumo

na da Saúde adoeço

na do Desterro me encontro

na da Alegria me perco

Na Rua do Carmo berro

na Rua Direita erro

e na da Aurora adormeço (...)


Fonte: GULLAR, Ferreira. Poema sujo. Rio de Janeiro, José Olympio, 2004, p. 52-53.



Sobre o fragmento, é INCORRETO afirmar que o eu-lírico:

A) utiliza antítese para marcar sua relação conturbada com a cidade como em “na da Saúde adoeço”.

B) apresenta sensação olfativa para expor seus sentidos como em “na do Alecrim me perfumo”.

C) recorre a verso longo para detalhar sua emoção como em “Na Rua Direita erro”.

D) emprega elipse para suprimir “Rua” como em “Na do Desterro me encontro”.

A B C D E

cód. #1361

UEL - Português - 2019 - Vestibular - Língua Portuguesa, Literatura e Língua Espanhola

Leia a crônica a seguir, de Luis Fernando Veríssimo, e responda à questão:

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção.
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112.
Sobre o trecho “E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra”, assinale a alternativa que substitui, corretamente, os dois pontos, sem alterar o sentido original.

A) isto é

B) nesse sentido

C) afinal

D) por conseguinte

E) até que

A B C D E

cód. #2897

COPESE - UFT - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre - Língua Portuguesa, Inglês e Matemática

Texto I
Empatia, o sentimento que pode mudar a sociedade

      Sem empatia, sobra intolerância, bullying, violência. Sem gastar um segundo imaginando como o outro se sente, de onde vem, em qual contexto foi criado, ao que foi exposto, sem se lembrar que cada um tem sua história e sem tentar entender como é estar na pele do outro, surgem os crimes de ódio, as discussões acaloradas nas redes sociais, o fim de amizades de uma vida toda. É preciso ter empatia para aprender que não existe verdade absoluta, que tudo depende do ponto de vista.
      Segundo uma pesquisa da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, o Brasil não é dos países mais empáticos do mundo. Sim, somos conhecidos pela alegria e pela hospitalidade, mas quando falamos em se colocar no lugar do outro e tentar entender o que ele sente, ainda estamos muito longe do ideal. [...] Mas o problema do egocentrismo e da falta de amor ao próximo não é exclusivo dos brasileiros. É uma preocupação mundial.

Afinal, o que é empatia?
      A empatia é, em termos simples, a habilidade de se colocar no lugar do outro. Por exemplo, se você, leitor, escuta uma história sobre uma criança que teve muitos problemas de saúde, que vem de uma família muito pobre, e se comove, é possível ter dois tipos de emoção: o dó, que é a simpatia; ou se colocar no lugar daquela criança, imaginar o que ela passou e tentar entender o que ela sentia, enxergar o panorama a partir dos olhos dela. “É ser sensível a ponto de compreender emoções e sentimentos de outras pessoas”, explica Rodrigo Scaranari, presidente da Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional. E é uma característica que pode, sim, ser aprendida ou, pelo menos, treinada. Para Rodrigo, o exercício passa pelo autoconhecimento: para compreender a emoção do outro, é preciso conhecer e entender o que se passa dentro da própria cabeça. [...]
      Mas por que nos colocamos no lugar do outro? Para o psicólogo, psicanalista e professor João Ângelo Fantini, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a empatia seria “uma forma de restabelecer um contato com um objeto de amor perdido, uma parte incompreendida do sujeito”. Enxergamos no outro uma humanidade compartilhada, sentimentos que também temos e que são aplicados em situações completamente diferentes. Por reconhecermos nós mesmos no próximo, temos empatia. [...]

Um caminho desde a infância

      Para reverter o cenário de crianças que crescem cada vez mais centradas em si mesmas e nos próprios problemas como reflexo da sociedade atual, a ONG (Organização Não Governamental) americana Roots of Empathy (Raízes da Empatia) atua em escolas tentando ensinar os pequenos a se colocar no lugar do outro. Uma vez por mês, durante nove meses, uma sala de aula recebe um bebê e sua família, além de um instrutor, para que as crianças acompanhem o crescimento da confiança e dos laços emocionais de outras pessoas. Frequentemente, eles começam a enxergar nos colegas emoções que aprenderam com os instrutores.
       Os resultados desse experimento são crianças menos agressivas, que combatem o bullying por entender como o outro se sente, e que têm inteligência emocional mais apurada, entendendo as próprias emoções. O programa é internacional, mas o ensino da empatia pode ser feito de diversas outras maneiras.
       A servidora pública Clara Fagundes, 32 anos, por exemplo, considera importante estimular a filha, Helena, 3 anos, a conviver harmonicamente com os outros e com o meio ambiente. Fez questão de escolher para a pequena uma escola que seguisse os mesmos valores apreciados por ela. “Minha mãe já era muito adepta ao diálogo comigo nos anos 1980, mas, hoje em dia, há tantas outras questões que não são discutidas, como a do desperdício”, cita Clara.
        A festa de aniversário de Helena foi na escola. Não produziram lixo, não foram usados enfeites descartáveis. As crianças ajudaram na organização e em toda a decoração: até as mais velhas, que não a conheciam, ajudaram. Além disso, em vez de receber um presente de cada colega, a aniversariante ganhou apenas um presente coletivo, feito pelos próprios colegas: uma casinha de papelão. Sem egoísmo, todos brincaram com o presente e, no fim, Helena levou à sua casa.
[...]
Fonte: SCARANARI, Rodrigo. Disponível em:
<http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/ciencia-esaude/2017/01/04/internas_cienciaesaude,682928/empatia-o-sentimento-quepode-mudar-a-sociedade.shtml> Acesso em: 06 fev. 2019 (adaptado).


Sobre a relação existente entre os textos I e II, assinale a alternativa INCORRETA.

A) No Texto I, o autor afirma que empatia é a habilidade que envolve a compreensão dos sentimentos do outro. Esse fato pode ser evidenciado, principalmente, nos 2º e 3º quadrinhos do Texto II, por meio da fala da personagem.

B) No Texto I, o autor expõe que empatia pode ser aprendida pelas crianças, com o apoio dos adultos, conforme o exemplo de Helena. Esse fato também pode ser percebido no Texto II, no 4º quadrinho.

C) No Texto I, a construção argumentativa do autor se baseia na discussão dos sentimentos empatia e dó. Isso pode ser percebido nos quadrinhos por meio da fala da personagem: “e se perceber na realidade do outro”.

D) No Texto I, o autor expõe que empatia envolve o autoconhecimento, ou seja, o fato de o indivíduo se reconhecer no outro. No Texto II, verifica-se contexto semelhante presente nos dizeres: “até ser capaz de sentir o que o outro sente”.

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