Questões de Português para Vestibular

cód. #4505

UniCEUB - Português - 2019 - Vestibular de Medicina

Leia o trecho do romance Menino de engenho, de José Lins do Rego, para responder à questão.

     A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. Ela vivia de contar histórias de Trancoso1 . Pequenina e toda engelhada2 , tão leve que uma ventania poderia carregá-la, andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das Mil e uma noites. Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens! Sem nem um dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras.
                                                                            (Menino de engenho, 2000.)
1 Trancoso: escritor português do século XVI.
2 engelhada: enrugada.
No trecho, a velha Totonha é descrita como

A) franzina, bem como exímia contadora de histórias.

B) desajuizada e detentora de imaginação fértil.

C) obcecada por narrativas tradicionais enfadonhas

D) hábil em filosofar sobre a existência humana.

E) destemida e conhecedora dos segredos dos moradores da região.

A B C D E

cód. #5017

Instituto Consulplan - Português - 2019 - Vestibular - Medicina

Japonês e americano vencem Nobel de Medicina por pesquisas contra o câncer

    O japonês Tasuku Honjo e o americano James Patrick Allison foram anunciados nesta segunda-feira como os vencedores do prêmio Nobel de Medicina. A dupla de imunologistas recebeu a honraria por suas pesquisas contra o câncer. Segundo os organizadores do prêmio, “ao estimular a capacidade inerente do sistema imunológico de atacar as células de tumor, os laureados estabeleceram uma base inteiramente nova para a terapia contra o câncer”.
    Paralelamente, Allison e Honjo desenvolveram estudos sobre proteínas que funcionam como “freios” no nosso sistema imunológico. Ao manipular esses “freios”, eles conseguiram liberar ataques mais potentes das defesas naturais do corpo contra os tumores malignos. Para o Nobel, “as descobertas seminais dos dois vencedores representam um marco na luta contra o câncer”.
    Allison é professor na Universidade do Texas, enquanto Honjo trabalha na Universidade de Kyoto. Os dois vão dividir o prêmio de cerca de 4 milhões de reais.

(Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/japones-e-americano-vencem-nobel-de-medicina-por-pesquisa-contra-o-cancer/1 out 2018.) 
Em “Ao manipular esses ‘freios’, eles conseguiram liberar ataques mais potentes das defesas naturais do corpo contra os tumores malignos.” (2º §) é correto afirmar que o enunciado apresenta

A) simplicidade exagerada e proposital tendo em vista o único objetivo de divulgar a descoberta científica de que trata.

B) linguagem marcada principalmente por elementos da oralidade com o propósito de alcançar o público a que se destina.

C) uma linguagem cuja principal característica é a objetividade e linearidade com total isenção da conotatividade.

D) uma retomada da informação anterior por meio de uma linguagem em que há utilização de um termo cujo sentido conotativo é produzido no contexto em que se insere.

A B C D E

cód. #3738

INEP - Português - 2019 - Vestibular

Em Dobro



Fonte: MILMAN, Tulio. Em dobro. Jornal Zero Hora,

edição de 30/06/14, p.2.


Considerando o ponto de vista do autor e as interações entre os personagens, infere-se que

A) o mendigo criticou o desempenho profissional da gari.

B) a gari se resignou com a insistência do mendigo.

C) a turista ficou indiferente à cena presenciada por ela.

D) o mendigo deu uma esmola para a gari espontaneamente.

E) a turista reprovou os comportamentos do mendigo e da gari.

A B C D E

cód. #3994

INEP - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre

Para responder à questão, leia o texto seguinte.

Sobre a alagoanidade
Extraído do livro “Notas Sobre Leitura”, de Sidney Wanderley 

    Certa feita, em conversa com a jornalista Janayna Ávila, disse-lhe considerar a alagoanidade um nativismo para broncos. De fato, exaspera-me esta questão – monocórdia, obsessiva, recorrente e estéril – da identidade de um povo, qualquer que seja ele. Acrescentei gaiatamente que a viçosanidade – atributo inconfundível de qualquer bípede implume nascido em Viçosa de Alagoas – consiste no amor desmedido às bolachas de padaria, à xistose e à zabumba. Aliás, esse troço de amor desmedido e acrítico ao torrão natal é coisa que fede e da qual desconfio visceralmente.
    Tomo sempre um susto danado quando meu interlocutor, com ares de sociólogo, antropólogo, etnólogo ou besteirólogo, invariavelmente posudo e sisudo, assevera-me existir a ironia tipicamente alagoana, a maledicência inconfundivelmente caeté ou o humor característico de quem por aqui nasceu. Não ignoro que há uma diferença nítida e notória entre o humor inglês e o humor italiano; mas o que diferencia o humor de um alagoano do humor de um capixaba ou de um sergipano? Acaso rimos mais graciosamente que esses outros, ou emitimos algum som inconfundível quando gargalhamos?
    Haver uma ironia, um humor, uma maledicência, uma violência ou um ressentimento inconfundivelmente alagoanos parece-me um disparate tão considerável quanto haver um futebol alagoano, uma poesia alagoana ou uma cardiologia alagoana. O que há é gente a jogar bola, a compor poemas ou a distrair-se remuneradamente com  cateteres nos limites desta modestíssima unidade federativa.
    Arrisco imaginar o muxoxo de desdém e o coice de impaciência que Graciliano Ramos, nosso ícone maior, não dispensaria a quem fosse importuná-lo com essa conversa mole de alagoanidade. A alagoanidade do caráter predatório e tirânico de Paulo Honório; a alagoanidade lastimável e prepotente do soldado amarelo; a alagoanidade agônica da cachorra Baleia, à beira da morte, a sonhar com um mundo repleto de preás; a alagoanidade adiposa e burguesa de Julião Tavares acoplada à alagoanidade ressentida e assassina de Luís da Silva; a alagoanidade mendicante e fétida de Venta-Romba... Melhor deixar em paz o homo quebrangulensis.
    Ocorre-me agora um dilema visceral: opto pela concisão (“as mesmas vinte palavras”) de nosso romancista maior ou pela incontinência verbal de nosso poeta maior, o palmarino Jorge de Lima? Deverei, de imediato, atribuir alguma média ponderada a suas obras e a seus espíritos e obter algum valor que exprima com exatidão e fidedignidade a alma média do homo alagoensis, afogada por inteiro numa mescla de nossos pontos/homens culminantes. Assim, decerto obterei por fim essa tão apregoada quanto fictícia alagoanidade – força vital, espírito motor, éter, suprassumo, élan, quinta-essência – que nos desconfunde e anima.
    Que pecado para um alagoano típico preferir o primeiro (“há sempre um copo de mar” – não necessariamente alagoano – “para um homem navegar”) e o quarto cantos de Invenção de Orfeu (“O perigo da vida são os vácuos”), bem como a difícil decifração do Livro de sonetos, ao Jorge de Lima dengoso e aliciante dos Poemas negros e ao devoto fervoroso de A túnica inconsútil. Que ato bárbaro de antialagoanidade – digno talvez de um fim similar ao que obtiveram Zumbi, Julião Tavares, Baleia e Calabar – preferir a viagem ao lado da vaca palustre e bela e do cavalo erudito e em chamas, ao passeio pelo parnasianismo sentencioso e de fácil consagração de “O acendedor de lampiões”!
    Advogo, sim, uma alagoanidade esculhambada, disforme, banguela, antropofágica (com direito a sardinhas e Sardinha), macunaímica (“Ai! que preguiça!” desse papo infausto e broncoposudo de identidade cultural etc. e coisa e tal), desbragadamente inclusiva e insaciavelmente cosmofágica. Uma alagoanidade tal a de dona Nise da Silveira, que soube unir os tórridos loucos e os gatos tupiniquins à psicologia dos arquétipos junguianos, oriundos da fria e fleumática Suíça. Uma alagoanidade que acolha o cego Homero e o boêmio Zé do Cavaquinho, os epilépticos Dostoiévski e Machado de Assis e o desassossegado Breno Accioly, a mitologia nórdica e o reisado, a madeleine proustiana e as bolachas Pirauê da padaria de Viçosa, o puteiro do finado Mossoró e as libidinagens de Molly Bloom, os travestis da Pajuçara e os versos de Whitman e Lorca, os labirintos borgianos e os descaminhos da feira do Rato, o mujique russo e o sertanejo de Dois Riachos, os feitiços verbais de Guimarães Rosa e o segredo sagrado do camarão do Bar das Ostras, o decassílabo camoniano e o martelo agalopado dos cantadores de viola da minha já recuada infância.
    Uma alagoanidade que me permita ser os trezentos, os trezentos e cinquenta que trago em mim desde a nascença e que se finarão em breve, felizmente, pois viver por vezes é um bocado custoso e prolongado. Ai, que preguiça! e que vontade de adormecer, profundamente, em Viçosa, na confluência dos rios Paraíba, Tejo, Ganges, Mississippi e Eufrates.

P.S.: Dez ou doze coisas em que creio piamente: 1) na metempsicose; 2) nas almas motrizes dos planetas e do Sol; 3) no dilúvio universal; 4) nos vórtices cartesianos; 5) na hereditariedade dos caracteres adquiridos; 6) no geocentrismo: 7) na finitude do universo: 8) na teoria do flogisto; 9) no saci-pererê, no lobisomem e na caipora; e, last but not least, 10) na alagoanidade.

(Disponível em:<http://www.agendaa.tnh1.com.br/vida/literatura/7576/2018/12/1existe-uma-alagoanidade-leia-artigo-do-poeta-sidney-wanderleyem-livro-lancado-nesta-quarta>. Acesso em 5/3/2018)
Quanto aos aspectos linguístico-discursivos do texto, assinale a alternativa que apresenta uma afirmação INCORRETA.

A) Apesar de o texto ser escrito em primeira pessoa, seu foco não é o sujeito que escreve, mas o objeto sobre o qual o autor se detém, isto é, o assunto abordado; predomina nele, pois, a função referencial da linguagem.

B) No trecho “De fato, exaspera-me esta questão – monocórdia, obsessiva, recorrente e estéril – da identidade de um povo, qualquer que seja ele.”, os travessões poderiam ser substituídos por parênteses; mas isso provocaria efeito de sentido diferente no excerto.

C) Dado o nível informacional do texto, espera-se do interlocutor a partilha, com o autor, de certos conhecimentos específicos relativos à literatura e à história, por exemplo; o que não impede que, sem tais conhecimentos, uma compreensão global das ideias se efetive na leitura.

D) Haja vista seu título, o texto manifesta sua intenção comunicativa ao narrar os fatos que caracterizam a literatura e a história alagoanas; para isso, o autor optou pela estrutura do texto em prosa, dividido em parágrafos e organizado, do ponto de vista da composição, em tese, argumentos e conclusão.

E) Marcadores discursivos como “Certa feita”, “De fato”, “Aliás”, “Assim”, “decerto”, “bem como”, dispostos ao longo do texto, permitem ao autor fazer suas ideias progredirem à medida que ele amplia a discussão e, ainda, possibilitam-lhe marcar sua subjetividade nos enunciados que produz.

A B C D E

cód. #4506

UniCEUB - Português - 2019 - Vestibular de Medicina

Leia o trecho do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, para responder à questão.

    Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços [...]; outras vezes porém e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconforto havia com paciência de mártir; o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.

             (Memórias de um sargento de milícias, 2016.)
Assinale a alternativa em que há uma análise adequada do trecho apresentado.

A) “Em certas casas os agregados eram muito úteis” — o vocábulo destacado exprime noção de indefinição.

B) “lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos” — os vocábulos destacados são empregados em sentido próprio.

C) “se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências” — o vocábulo destacado produz um eufemismo.

D) “no segundo aturavam quanto desconforto havia com paciência de mártir” — o vocábulo destacado refere-se metaforicamente a “agregado”.

E) “intervinha enfim nos mais particulares negócios” — o vocábulo destacado estabelece relação de finalidade.

A B C D E

cód. #5018

Instituto Consulplan - Português - 2019 - Vestibular - Medicina

Japonês e americano vencem Nobel de Medicina por pesquisas contra o câncer

    O japonês Tasuku Honjo e o americano James Patrick Allison foram anunciados nesta segunda-feira como os vencedores do prêmio Nobel de Medicina. A dupla de imunologistas recebeu a honraria por suas pesquisas contra o câncer. Segundo os organizadores do prêmio, “ao estimular a capacidade inerente do sistema imunológico de atacar as células de tumor, os laureados estabeleceram uma base inteiramente nova para a terapia contra o câncer”.
    Paralelamente, Allison e Honjo desenvolveram estudos sobre proteínas que funcionam como “freios” no nosso sistema imunológico. Ao manipular esses “freios”, eles conseguiram liberar ataques mais potentes das defesas naturais do corpo contra os tumores malignos. Para o Nobel, “as descobertas seminais dos dois vencedores representam um marco na luta contra o câncer”.
    Allison é professor na Universidade do Texas, enquanto Honjo trabalha na Universidade de Kyoto. Os dois vão dividir o prêmio de cerca de 4 milhões de reais.

(Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/japones-e-americano-vencem-nobel-de-medicina-por-pesquisa-contra-o-cancer/1 out 2018.) 
Para que haja coesão textual é necessário o emprego adequado de elementos conectivos que promovam o sentido pretendido pelo enunciador tanto no interior de cada parágrafo como na relação entre um parágrafo e outro. No segundo parágrafo do texto, pode-se observar trecho em que o emprego de termo de coesão textual expressa conformidade, a saber:

A) “[...] foram anunciados nesta segunda-feira como os vencedores [...]” (1º §)

B) “A dupla de imunologistas recebeu a honraria por suas pesquisas[...]” (1º §)

C) “Segundo os organizadores do prêmio, ‘ao estimular a capacidade [...]’” (1º §)

D) “[...]estabeleceram uma base inteiramente nova para a terapia contra o câncer.” (2º §)

A B C D E

cód. #3995

INEP - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre

Para responder à questão, leia o texto seguinte.

Sobre a alagoanidade
Extraído do livro “Notas Sobre Leitura”, de Sidney Wanderley 

    Certa feita, em conversa com a jornalista Janayna Ávila, disse-lhe considerar a alagoanidade um nativismo para broncos. De fato, exaspera-me esta questão – monocórdia, obsessiva, recorrente e estéril – da identidade de um povo, qualquer que seja ele. Acrescentei gaiatamente que a viçosanidade – atributo inconfundível de qualquer bípede implume nascido em Viçosa de Alagoas – consiste no amor desmedido às bolachas de padaria, à xistose e à zabumba. Aliás, esse troço de amor desmedido e acrítico ao torrão natal é coisa que fede e da qual desconfio visceralmente.
    Tomo sempre um susto danado quando meu interlocutor, com ares de sociólogo, antropólogo, etnólogo ou besteirólogo, invariavelmente posudo e sisudo, assevera-me existir a ironia tipicamente alagoana, a maledicência inconfundivelmente caeté ou o humor característico de quem por aqui nasceu. Não ignoro que há uma diferença nítida e notória entre o humor inglês e o humor italiano; mas o que diferencia o humor de um alagoano do humor de um capixaba ou de um sergipano? Acaso rimos mais graciosamente que esses outros, ou emitimos algum som inconfundível quando gargalhamos?
    Haver uma ironia, um humor, uma maledicência, uma violência ou um ressentimento inconfundivelmente alagoanos parece-me um disparate tão considerável quanto haver um futebol alagoano, uma poesia alagoana ou uma cardiologia alagoana. O que há é gente a jogar bola, a compor poemas ou a distrair-se remuneradamente com  cateteres nos limites desta modestíssima unidade federativa.
    Arrisco imaginar o muxoxo de desdém e o coice de impaciência que Graciliano Ramos, nosso ícone maior, não dispensaria a quem fosse importuná-lo com essa conversa mole de alagoanidade. A alagoanidade do caráter predatório e tirânico de Paulo Honório; a alagoanidade lastimável e prepotente do soldado amarelo; a alagoanidade agônica da cachorra Baleia, à beira da morte, a sonhar com um mundo repleto de preás; a alagoanidade adiposa e burguesa de Julião Tavares acoplada à alagoanidade ressentida e assassina de Luís da Silva; a alagoanidade mendicante e fétida de Venta-Romba... Melhor deixar em paz o homo quebrangulensis.
    Ocorre-me agora um dilema visceral: opto pela concisão (“as mesmas vinte palavras”) de nosso romancista maior ou pela incontinência verbal de nosso poeta maior, o palmarino Jorge de Lima? Deverei, de imediato, atribuir alguma média ponderada a suas obras e a seus espíritos e obter algum valor que exprima com exatidão e fidedignidade a alma média do homo alagoensis, afogada por inteiro numa mescla de nossos pontos/homens culminantes. Assim, decerto obterei por fim essa tão apregoada quanto fictícia alagoanidade – força vital, espírito motor, éter, suprassumo, élan, quinta-essência – que nos desconfunde e anima.
    Que pecado para um alagoano típico preferir o primeiro (“há sempre um copo de mar” – não necessariamente alagoano – “para um homem navegar”) e o quarto cantos de Invenção de Orfeu (“O perigo da vida são os vácuos”), bem como a difícil decifração do Livro de sonetos, ao Jorge de Lima dengoso e aliciante dos Poemas negros e ao devoto fervoroso de A túnica inconsútil. Que ato bárbaro de antialagoanidade – digno talvez de um fim similar ao que obtiveram Zumbi, Julião Tavares, Baleia e Calabar – preferir a viagem ao lado da vaca palustre e bela e do cavalo erudito e em chamas, ao passeio pelo parnasianismo sentencioso e de fácil consagração de “O acendedor de lampiões”!
    Advogo, sim, uma alagoanidade esculhambada, disforme, banguela, antropofágica (com direito a sardinhas e Sardinha), macunaímica (“Ai! que preguiça!” desse papo infausto e broncoposudo de identidade cultural etc. e coisa e tal), desbragadamente inclusiva e insaciavelmente cosmofágica. Uma alagoanidade tal a de dona Nise da Silveira, que soube unir os tórridos loucos e os gatos tupiniquins à psicologia dos arquétipos junguianos, oriundos da fria e fleumática Suíça. Uma alagoanidade que acolha o cego Homero e o boêmio Zé do Cavaquinho, os epilépticos Dostoiévski e Machado de Assis e o desassossegado Breno Accioly, a mitologia nórdica e o reisado, a madeleine proustiana e as bolachas Pirauê da padaria de Viçosa, o puteiro do finado Mossoró e as libidinagens de Molly Bloom, os travestis da Pajuçara e os versos de Whitman e Lorca, os labirintos borgianos e os descaminhos da feira do Rato, o mujique russo e o sertanejo de Dois Riachos, os feitiços verbais de Guimarães Rosa e o segredo sagrado do camarão do Bar das Ostras, o decassílabo camoniano e o martelo agalopado dos cantadores de viola da minha já recuada infância.
    Uma alagoanidade que me permita ser os trezentos, os trezentos e cinquenta que trago em mim desde a nascença e que se finarão em breve, felizmente, pois viver por vezes é um bocado custoso e prolongado. Ai, que preguiça! e que vontade de adormecer, profundamente, em Viçosa, na confluência dos rios Paraíba, Tejo, Ganges, Mississippi e Eufrates.

P.S.: Dez ou doze coisas em que creio piamente: 1) na metempsicose; 2) nas almas motrizes dos planetas e do Sol; 3) no dilúvio universal; 4) nos vórtices cartesianos; 5) na hereditariedade dos caracteres adquiridos; 6) no geocentrismo: 7) na finitude do universo: 8) na teoria do flogisto; 9) no saci-pererê, no lobisomem e na caipora; e, last but not least, 10) na alagoanidade.

(Disponível em:<http://www.agendaa.tnh1.com.br/vida/literatura/7576/2018/12/1existe-uma-alagoanidade-leia-artigo-do-poeta-sidney-wanderleyem-livro-lancado-nesta-quarta>. Acesso em 5/3/2018)
Assinale a alternativa que apresenta uma compreensão INCORRETA quanto aos efeitos de sentido decorrentes de aspectos morfológicos na formação de algumas palavras presentes no texto.

A) “alagoanidade” e “viçosanidade” / podendo indicar estado de ser, os sufixos grifados garantem ao autor, mediante o potencial morfológico da língua portuguesa, problematizar o ser alagoano e/ou viçosense.

B)desmedido” e “acrítico” / as formas grifadas indicam privação ou negação e servem para apontar a ausência de juízo adequado daqueles que, diferentemente do autor, acreditam na existência de uma identidade alagoana asséptica em relação a outras culturas.

C) “sociólogo”, “antropólogo”, “etnólogo” e “besteirólogo” / no contexto em que aparecem essas palavras, por meio dos sufixos a elas associados, o autor ironiza a pretensa sabedoria de seu interlocutor quando este lhe assevera existir uma “ironia tipicamente alagoana, a maledicência inconfundivelmente caeté ou o humor característico de quem por aqui nasceu”.

D)desbragadamente inclusiva” “insaciavelmente cosmofágica”, “inconfundivelmente alagoanos” / apesar de o sufixo –mente, de forma ordinária, servir para transformar adjetivos em advérbios de modo, no texto em análise, no contexto em que as palavras em negrito aparecem, pode-se inferir, também, da leitura delas, um efeito de sentido pelo qual esses vocábulos atuam como intensificadores dos adjetivos a que se ligam.

E) “alagoensis” e “quebrangulensis” / o sufixo -ensis, nessas palavras, cria neologismos que, no texto, se unem ao vocábulo homo para defender e exaltar, mediante latinização do português, uma espécie de humano genuinamente alagoano, imitando-se, na forma, expressões como homo sapiens e homo erectus.

A B C D E

cód. #4507

UniCEUB - Português - 2019 - Vestibular de Medicina

Leia o trecho do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, para responder à questão.

    Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços [...]; outras vezes porém e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconforto havia com paciência de mártir; o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.

             (Memórias de um sargento de milícias, 2016.)
No trecho, o narrador apresenta

A) as principais composições das famílias da elite, com e sem agregados.

B) as diferentes formas de se transformar um membro da família em agregado.

C) a conduta a ser seguida por agregados cujo objetivo era pertencer à elite.

D) os maus-tratos a que a maioria das famílias submetia os agregados.

E) dois tipos opostos de agregados, o que era explorado e o explorador.

A B C D E

cód. #5019

Instituto Consulplan - Português - 2019 - Vestibular - Medicina

Japonês e americano vencem Nobel de Medicina por pesquisas contra o câncer

    O japonês Tasuku Honjo e o americano James Patrick Allison foram anunciados nesta segunda-feira como os vencedores do prêmio Nobel de Medicina. A dupla de imunologistas recebeu a honraria por suas pesquisas contra o câncer. Segundo os organizadores do prêmio, “ao estimular a capacidade inerente do sistema imunológico de atacar as células de tumor, os laureados estabeleceram uma base inteiramente nova para a terapia contra o câncer”.
    Paralelamente, Allison e Honjo desenvolveram estudos sobre proteínas que funcionam como “freios” no nosso sistema imunológico. Ao manipular esses “freios”, eles conseguiram liberar ataques mais potentes das defesas naturais do corpo contra os tumores malignos. Para o Nobel, “as descobertas seminais dos dois vencedores representam um marco na luta contra o câncer”.
    Allison é professor na Universidade do Texas, enquanto Honjo trabalha na Universidade de Kyoto. Os dois vão dividir o prêmio de cerca de 4 milhões de reais.

(Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/japones-e-americano-vencem-nobel-de-medicina-por-pesquisa-contra-o-cancer/1 out 2018.) 
Tendo em vista os aspectos semânticos da língua, é correto afirmar que o termo destacado tem o sentido produzido no contexto corretamente indicado nos trechos a seguir, EXCETO:

A) “[...] recebeu a honraria por suas pesquisas [...]” (1º §) / nobilitação

B) “[...] as descobertas seminais dos dois vencedores [...]” (2º §) / inspiradoras

C) “[…] os laureados estabeleceram uma base inteiramente nova […]” (1º §) / adornados com louros

D) “[...] representam um marco na luta contra o câncer.” (2º §) / acontecimento extremamente importante

A B C D E

cód. #3996

INEP - Português - 2019 - Vestibular - Segundo Semestre

Para responder à questão, leia o texto seguinte.

Sobre a alagoanidade
Extraído do livro “Notas Sobre Leitura”, de Sidney Wanderley 

    Certa feita, em conversa com a jornalista Janayna Ávila, disse-lhe considerar a alagoanidade um nativismo para broncos. De fato, exaspera-me esta questão – monocórdia, obsessiva, recorrente e estéril – da identidade de um povo, qualquer que seja ele. Acrescentei gaiatamente que a viçosanidade – atributo inconfundível de qualquer bípede implume nascido em Viçosa de Alagoas – consiste no amor desmedido às bolachas de padaria, à xistose e à zabumba. Aliás, esse troço de amor desmedido e acrítico ao torrão natal é coisa que fede e da qual desconfio visceralmente.
    Tomo sempre um susto danado quando meu interlocutor, com ares de sociólogo, antropólogo, etnólogo ou besteirólogo, invariavelmente posudo e sisudo, assevera-me existir a ironia tipicamente alagoana, a maledicência inconfundivelmente caeté ou o humor característico de quem por aqui nasceu. Não ignoro que há uma diferença nítida e notória entre o humor inglês e o humor italiano; mas o que diferencia o humor de um alagoano do humor de um capixaba ou de um sergipano? Acaso rimos mais graciosamente que esses outros, ou emitimos algum som inconfundível quando gargalhamos?
    Haver uma ironia, um humor, uma maledicência, uma violência ou um ressentimento inconfundivelmente alagoanos parece-me um disparate tão considerável quanto haver um futebol alagoano, uma poesia alagoana ou uma cardiologia alagoana. O que há é gente a jogar bola, a compor poemas ou a distrair-se remuneradamente com  cateteres nos limites desta modestíssima unidade federativa.
    Arrisco imaginar o muxoxo de desdém e o coice de impaciência que Graciliano Ramos, nosso ícone maior, não dispensaria a quem fosse importuná-lo com essa conversa mole de alagoanidade. A alagoanidade do caráter predatório e tirânico de Paulo Honório; a alagoanidade lastimável e prepotente do soldado amarelo; a alagoanidade agônica da cachorra Baleia, à beira da morte, a sonhar com um mundo repleto de preás; a alagoanidade adiposa e burguesa de Julião Tavares acoplada à alagoanidade ressentida e assassina de Luís da Silva; a alagoanidade mendicante e fétida de Venta-Romba... Melhor deixar em paz o homo quebrangulensis.
    Ocorre-me agora um dilema visceral: opto pela concisão (“as mesmas vinte palavras”) de nosso romancista maior ou pela incontinência verbal de nosso poeta maior, o palmarino Jorge de Lima? Deverei, de imediato, atribuir alguma média ponderada a suas obras e a seus espíritos e obter algum valor que exprima com exatidão e fidedignidade a alma média do homo alagoensis, afogada por inteiro numa mescla de nossos pontos/homens culminantes. Assim, decerto obterei por fim essa tão apregoada quanto fictícia alagoanidade – força vital, espírito motor, éter, suprassumo, élan, quinta-essência – que nos desconfunde e anima.
    Que pecado para um alagoano típico preferir o primeiro (“há sempre um copo de mar” – não necessariamente alagoano – “para um homem navegar”) e o quarto cantos de Invenção de Orfeu (“O perigo da vida são os vácuos”), bem como a difícil decifração do Livro de sonetos, ao Jorge de Lima dengoso e aliciante dos Poemas negros e ao devoto fervoroso de A túnica inconsútil. Que ato bárbaro de antialagoanidade – digno talvez de um fim similar ao que obtiveram Zumbi, Julião Tavares, Baleia e Calabar – preferir a viagem ao lado da vaca palustre e bela e do cavalo erudito e em chamas, ao passeio pelo parnasianismo sentencioso e de fácil consagração de “O acendedor de lampiões”!
    Advogo, sim, uma alagoanidade esculhambada, disforme, banguela, antropofágica (com direito a sardinhas e Sardinha), macunaímica (“Ai! que preguiça!” desse papo infausto e broncoposudo de identidade cultural etc. e coisa e tal), desbragadamente inclusiva e insaciavelmente cosmofágica. Uma alagoanidade tal a de dona Nise da Silveira, que soube unir os tórridos loucos e os gatos tupiniquins à psicologia dos arquétipos junguianos, oriundos da fria e fleumática Suíça. Uma alagoanidade que acolha o cego Homero e o boêmio Zé do Cavaquinho, os epilépticos Dostoiévski e Machado de Assis e o desassossegado Breno Accioly, a mitologia nórdica e o reisado, a madeleine proustiana e as bolachas Pirauê da padaria de Viçosa, o puteiro do finado Mossoró e as libidinagens de Molly Bloom, os travestis da Pajuçara e os versos de Whitman e Lorca, os labirintos borgianos e os descaminhos da feira do Rato, o mujique russo e o sertanejo de Dois Riachos, os feitiços verbais de Guimarães Rosa e o segredo sagrado do camarão do Bar das Ostras, o decassílabo camoniano e o martelo agalopado dos cantadores de viola da minha já recuada infância.
    Uma alagoanidade que me permita ser os trezentos, os trezentos e cinquenta que trago em mim desde a nascença e que se finarão em breve, felizmente, pois viver por vezes é um bocado custoso e prolongado. Ai, que preguiça! e que vontade de adormecer, profundamente, em Viçosa, na confluência dos rios Paraíba, Tejo, Ganges, Mississippi e Eufrates.

P.S.: Dez ou doze coisas em que creio piamente: 1) na metempsicose; 2) nas almas motrizes dos planetas e do Sol; 3) no dilúvio universal; 4) nos vórtices cartesianos; 5) na hereditariedade dos caracteres adquiridos; 6) no geocentrismo: 7) na finitude do universo: 8) na teoria do flogisto; 9) no saci-pererê, no lobisomem e na caipora; e, last but not least, 10) na alagoanidade.

(Disponível em:<http://www.agendaa.tnh1.com.br/vida/literatura/7576/2018/12/1existe-uma-alagoanidade-leia-artigo-do-poeta-sidney-wanderleyem-livro-lancado-nesta-quarta>. Acesso em 5/3/2018)
Qual das afirmações abaixo configura uma leitura CORRETA do texto do Sidney Wanderley?

A) Para o autor, a ideia de alagoanidade não se coaduna com uma noção fechada de identidade, resultante da fixação de estereótipos que realçam um modo de ser alagoano que não dialogaria com elementos associados a outras culturas.

B) O autor defende a tese de que ser alagoano é uma condição que resulta do enaltecimento de personalidades locais, como Nise da Silveira e os travestis da Pajuçara, os quais, segundo ele, traduzem com mais fidelidade a cor local do que, por exemplo, Dostoiévski e Guimarães Rosa.

C) Conforme sustenta no texto, Sidney Wanderley crê que, com a morte, encerra-se a capacidade de o sujeito influenciar a construção das identidades culturais de um povo.

D) Não existe uma identidade alagoana, segundo advoga o autor, haja vista que ele desconfia do “amor desmedido e acrítico ao torrão natal”.

E) Para Wanderley, não são elementos próprios da identidade cultural do alagoano a ironia, a maledicência ou o humor, assim como não são traços comuns a esse povo, no esporte, o gosto pelo futebol ou, no campo das artes, a produção de poesia.

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